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24 de fevereiro de 2014

Martine Blain – De pequenina à grande bailarina




(Foto: Reprodução/Arquivo)
Por Jessyca Biazini

Esta menina tão pequenina quer ser bailarina. Não conhece nem dó, nem ré, mas sabe ficar na ponta do pé. Não conhece nem mi, nem fá, mas inclina o corpo para lá e para cá. (...) Põe na cabeça uma estrela e um véu, e diz que caiu do céu. Este poema de Cecília Meireles pode ser usado para descrever o início da carreira da bailarina, diretora, coreógrafa Martine Blain.

Seus brinquedos favoritos na infância eram as sapatilhas e a roupa de balé. Pedia de presente aos amigos e familiares sempre duas bonecas exatamente iguais, ninguém entendia, mas só ela sabia que assim iria conseguir ter um corpo de baile de brinquedo e montar coreografias. Ao ouvir a história parece que o destino tinha escolhido esta carreira para ela. Nasceu em uma família de artistas na França dos anos 40 e possui dupla nacionalidade: francesa e italiana. Os pais e avós tocavam piano e violino.

A mãe, uma excelente pianista na época em que não eram populares aparelhos de som, ainda mais com fitas e CDs, descobriu que os conservatórios de dança contratavam especialistas em músicas para barras, coreografias e centros. Ela conta emocionada que a mãe não tinha com quem deixá-la enquanto tocava, então, aos três anos, Martine ficava na sala ao lado e aprendia a brincar/dançar nas aulas de propedêutica (preparação para o corpo). E no ritmo dos passos, exercícios, apresentações e figurinos cresceu e percorreu mais de 27 países.

Trajetória

Formou-se na França, onde foi diplomada em balé clássico, dança moderna, dança afro-primitivo, dança espanhola e flamenca. Sua primeira apresentação foi aos 16 anos em uma turnê pela Bélgica. Foi a primeira bailarina e coreógrafa em turnês pelo Japão, Malásia, Singapura, Tailândia, Espanha, Portugal, Grécia, Bulgária, Iugoslávia, Angola, Moçambique, Tunísia, Líbia, França, Itália, Rússia, Argentina, Luxemburgo, Bélgica, Suíça, Indonésia, Malta e Alemanha. Viveu fatos da história, política e economia de vários lugares do mundo por meio de sua arte. “Na revolução de Angola e Moçambique, nós estávamos lá em teatros de lona e durante o espetáculo atiravam de lá para cá e de cá para lá, parecia um filme. A gente trabalhou muito na África Portuguesa”, relembra a bailarina.

Fundou e dirigiu a Companhia de Dança Les Coryphées em Roma e participou por 10 anos da rede de televisão italiana RAI. Com o patrocínio do Ministério da Educação Nacional de Roma, escreveu e dirigiu espetáculos e comédias musicais. Apresentou espetáculos sobre flamenco em escolas superiores e universidades de vários países da Europa e coreografou filmes e óperas líricas na França e na Itália. O que para muitos parece sonho, ela realizou; dançou para o rei da Itália. “Geralmente a gente imagina um rei com coroa, manto, aí vem um senhor com uma gravata, terno e te fala: Eu sou o rei da Itália. Você acredita?”, relembra Martine.

Perto do céu

Martine escolheu o alto da montanha próximo a Serra do Mar para viver. Sua casa fica quase 200 metros acima da vila de pescadores em São Sebastião, mas precisamente o Morro do Abrigo. Do quintal da casa ela pode ver o belo canal de São Sebastião e Ilhabela. Lá ela encontrou a paz que tanto procurava. Estava exausta com a rotina que vivia em Paris, não queria mais saber de sapatilhas, de aulas, coreografias e veio para o Litoral Norte em busca de tranquilidade. “Eu não sabia falar não. Eu tinha dias de 20 horas de trabalho e quando eu parei para pensar já era tarde, eu não queria deixar outras pessoas na mão”, conta Blain.

Durante muitos anos deu aulas nas Oficinas Culturais de São Sebastião e Ilhabela. Expõe com orgulho os mais de 80 prêmios que conquistou desde que chegou ao Brasil, mas as maiores conquistas foram a criação do Grupo de Dança Guadalquivir, em 1996 e a construção de um estúdio de dança em sua casa com quase 100m², espelhos, barras, figurinos e troféus. Para ela a residência é um local mágico, pode dar suas aulas de dança e de idiomas, receber os amigos e de perto do céu olhar o mar.

Na decoração tem um pedacinho de cada país, cristaleiras, móveis árabes, porcelanas, quadros de artistas que a retrataram dançando, fotografias que mostram a trajetória do grupo. E hoje, com mais de 60 anos de experiência, ganhou mais uma vez o Festival de Danzas Del Mercosur, na Argentina, com o Grupo de Dança Guadalquivir. Durante a conversa vimos que ela encontrou o que buscava. Ao observá-la é possível traduzir no brilho dos olhos, nos traços do rosto, na firmeza e no carinho com que se apoia na barra de balé, a competência e a experiência de uma mulher que ama a arte e luta para desenvolver um trabalho artístico cultural.

*Texto publicado na revista Bastidores

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